Para aquele tio que ouço desde que me conheço por gente

Fiquei sabendo que o Paulinho do Roupa Nova se foi. 

Sinceramente, eu não sei praticamente nada sobre ele. Nem mesmo seu nome completo. Mas fiquei muito triste, porque a única coisa que eu sei é de qual voz do Roupa Nova ele é o dono. Eu digo “é” e não “foi”, pois eu gosto de acreditar que todos morrem duas vezes, quando morre o corpo físico e quando todos que se lembram daquela pessoa também morrem. Acreditando nisso, Paulinho ainda está vivo em cada um que cresceu ouvindo aquela voz doída, cheia de sentimento, aquela que mais combina com o eco dos auditórios dos shows deles, ressoando um “eu te amo e vou gritar pra todo mundo ouvir!”. Aquela voz que parece que vem lá do fundo. Representante das canções mais intensas da banda. 

Na minha opinião, uma das representações mais bonitas sobre a dor. Aquela que muitas vezes fez companhia a corações partidos, e provavelmente ninguém admita. Aquelas que cantam a essência da beleza da mulher amada, tão intensas que conseguimos sentir que aquela voz é quente, ardente, no seu jeito mais puro, um fogo elegante, imponente, nada vulgar. 

Demorei para conhecer os rostos dessas vozes. Mas elas me acompanharam durante meu crescimento, através do rádio do carro, ouvindo deitadinha, no banco de trás, ou através daqueles diversos aparelhos de som do meu pai.

Enquanto crescia, a voz macia de Serginho me dava cafunés e me cobria com uma manta bem suave, como as de microfibra que são comuns hoje. E a voz de Paulinho, tão romântica mas enérgica, profunda, me dava uma ânsia linda por tudo de mágico que ainda descobriria no mundo adulto, no mundo dos romances.

Roupa Nova sempre veio para mim por intermédio de meu pai, a quem, a propósito, sou extremamente grata. Então, todas aquelas vozes eram como se fossem tios para mim, me ensinando como ia ser a vida quando eu crescesse e começasse a ter minhas próprias lendas para contar. E agora, ouvindo aquelas mesmas músicas, eu choro, sabendo que uma daquelas lindas vozes, a que parecia que chegava mais alto no céu, agora vai cantar dali, mas essa voz vai estar sempre em mim. Me despeço do dono daquilo que foi meu tio em minha mente. Aquele tio que vinha de fininho e cochichava algumas histórias mais picantes, mais densas, sempre com muita beleza, sempre me encantando e me dando esperanças pelo meu futuro. Um dos tios que sempre me lembra, ainda hoje, com a maior energia, que “um sonho a mais não faz mal”! Obrigada, tio do “Volta pra mim”.


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