Aventuras fazendo leis!

 Acabei de experimentar fazer uma lei po'o! O que significa coroa de flores em havaiano. Estou estudando a cultura havaiana e estava ficando cada vez mais com vontade de experimentar fazer uma lei com folhas e flores que eu encontrasse por aqui em cada (e na vizinhança). 

A palavra lei em si significa adorno, algo para se colocar, como um acessório. 

Alguns dias atrás, eu quis muito presentear uma pessoa especial com uma lei, apesar de não ser a cultura daqui do Brasil, queria expressar sentimentos bons através de uma lei feita por minhas próprias mãos, ainda mais porque ela me incentiva muito nos meus estudos sobre o Hawai'i.  Mas as primaveras daqui de casa não estavam na época de florescer, e fazia uns dias que eu ficava de olho em um pé de primavera bem roxinha e em plena flor no terreno vizinho, que atualmente não tem ninguém. Tecnicamente, o pé estava na calçada, então, o que eu fiz não foi um roubo, vai. Enfim, peguei algumas bonitas para mim e fiz a lei no estilo kui, que quer dizer costurado utilizando uma agulha. 

Ver o sorriso no rosto da minha amiga ao receber meu presente, fez valer o trabalho e a adrenalina na hora de coletar as flores. A  propósito, não foi apenas uma ida à frente do terreno vizinho munida de tesoura e uma sacolinha, tive que enfrentar essa aventura duas vezes pois não tinha colhido flores suficientes.

Pois então, passados alguns dias após esses momentos incríveis, resolvi me aventurar um pouco mais e experimentar fazer uma lei po'o. No Havaí é muito usada a folha que chamam de Ti leaf. Pesquisei um pouco e resolvi testar com uma folha brilhante que tinha no vaso da minha varanda, ela é bem menor que a Ti leaf ideal, mas seria um bom teste. Ontem coletei algumas folhas dessas, cortei no meio, tirando o talo e deixei no congelador, essa é uma das maneiras de amaciá-las e preparar para fazer os colares. 

Hoje, deixei-as descongelando e secando do lado de fora e à tarde, juntamente com algumas primaveras que sobraram do outro dia, sentei para começar, tomando o cuidado para sempre pensar coisas positivas, pois a energia de quando estamos fazendo a lei, se transfere para ela e é levado até seu destino. Estava um pouco temerosa de sair errado no começo, mas fui afastando isso e dizendo para mim mesma que eu estava fazendo experiências e não tinha mal algum nisso. As primaveras, colhidas há cinco dias, não estavam no seu melhor visual, mas eu as colhi com a melhor das intenções e merecem ser aproveitadas mesmo assim e fazer parte de uma lei feita com aloha, com carinho, com amor, com bons sentimentos. 

A folha se mostrou um pouco menos resistente do que parece ser a Ti e rasgou em alguns momentos. Concluí que deveria ter passado um pano úmido antes de congelar, pois minhas mãos ficaram sujas de barro quando terminei. Talvez eu devesse ter deixado menos tempo no congelador. Aprendi tudo isso mais um pouco em relação a detalhes e posições melhores para se colocar as flores. De modo algum foi perda de tempo e sinto ter ficado um pouquinho mais forte. 

Ultimamente vinha me sentindo culpada por qualquer besteira, o que diria se sentisse que desperdicei folhas e flores naturais! Eu estava acostumada há muito tempo a tentar responder perguntas fúteis, do tipo, pra quê fazer isso? Qual a utilidade disso? E enfrentar rostos julgadores sempre que tentava fazer algo novo. Mas novas vozes na minha vida vêm falando para mim: Para quê se preocupar? Por que não tentar? É a primeira vez que você faz isso, não se cobre tanto! 

Além disso, existe uma frase havaiana que diz: Pu'upu'u lei pali i ka 'a'i. Significa que uma lei imperfeita, se ergue majestosamente no pescoço. Ou seja, seus esforços e tempo fazendo, são valorizados. 

No fim, foi uma experiência incrível. A textura da folha, o som que a tesoura faz ao cortar os galhinhos, o cheiro de tudo, até do barro que estava ainda grudado na folha, a reação fofa do namorido ao me ver com a lei na cabeça. Todo o aprendizado é meu grande lucro em todas essas experiências consideradas malucas por certas pessoas. E é um lucro que ninguém poderia roubar de mim. E são elas que me inspiram tanto a escrever aqui.

Muito obrigada!

Foto tirada pelo Carlos Glaujor

Aloha!